domingo, 24 de janeiro de 2016

Caruaru/PE

Caminho à Caruaru, estava sendo uma viagem tranquila até chegar em uma polícia rodoviária de Pernambuco. Estávamos a poucos quilômetros da cidade desejada, quando o policial saiu do posto e fez sinal para pararmos. Eu estava tranquilo em relação a minha habilitação, mas não sabia como estava a situação do documento do carro. 



O policial falou que o licenciamento do carro estava atrasado. Eu ão sabia qual era o procedimento de pagamento, no momento em que eu perguntei se tinha chegado algo para pagar em Florianópolis me disseram que não. Então, relaxei. Vivemos uma pressão causada pelos policiais dizendo que tinham inclusive que apreender o carro. Faziam muito silêncio e nos davam poucas explicações. Romina falando com um policial fora, contando um pouco da nossa história de uma forma que para mim parecia descontraída e eu na sala tenso tentando entender o que iria acontecer. 

No final o policial demorou muito tentando emitir a notificação, nós saímos e ele ficou com os meus dados tentando, seguimos para Caruaru. O guarda não apreendeu o veículo e falou que eu teria que resolver o débito o mais rápido possível e que eu me informasse com o estado de origem do documento. 

A reflexão que tivemos é que o estado poderia lidar com este tipo de situação com menos tensão, sendo claros em relação ao procedimento que deveríamos tomar. Não agir em função do medo. Descobrimos que os policiais ganham comissões a cada notificação e achamos um absurdo. Para a gente este tipo de procedimento influencia a corrupção. Outro aprendizado é que mais uma vez percebemos que cada estado é um país e os procedimentos são diferentes, de forma que nenhum estado sabe como proceder quando se trata de assuntos relacionados ao outro. Posterior a este momento de aflição, seguimos viagem com mais uma missão burocrática pela frente, aprender e regularizar a situação do documento do carro. 

Entrando na cidade percebemos pela quantidade de luz o tamanho de Caruaru. O cansaço da viagem e os meses que já estávamos na estrada, somado ao imprevisto da polícia rodoviária nos fez pensar em pegar direto para Fortaleza o que seria bem arriscado sem documento do veículo. Decidimos nos alimentar de paciência, respirar e resolver tudo da melhor maneira possível. Precisávamos continuar com o projeto e finalizá-lo bem. Depois de tudo isso ligamos para Marília e marcamos um ponto de encontro em um shopping no centro da cidade. 

Conhecemos a simpática Marília e ela nos levou para a casa de Luiz Simão quem se disponibilizou em nos receber. Simão faz parte de um antigo grupo de teatro da cidade chamado TEA, ele ficou sabendo do nosso projeto e gentilmente se ofereceu em nos ajudar. 

Chegamos na casa do Luiz, tiramos tudo do carro e levamos para dentro de casa por recomendação do morador, Simão disse que era melhor não confiar. Subimos tudo por uma escada super ingrime. Chegamos cansados e preocupados com o documento do carro. 

Dormimos os dois em uma cama de solteiro, virados no sentido contrário um do outro para que a gente tenha mais espaço. Lamparina na sua caminha, mas como todo filhote sempre chorando a procura do calor dos donos.



Na terça feira de 4 de Agosto, começamos nossa estadia em Caruaru indo no centro com o intuito de resolver todas as pendências. Teríamos que ir no banco, levar Lamparina no veterinário pois ela vinha tendo muito coceira, descobrir como pagar as pendências para regularizar o documento do carro e ir em um cartório para fazer uma procuração. Como o documento do carro é de Florianópolis todo o procedimento teria que ser feito pela Janete através de uma procuração enviada por nós. Enfim, Brasil da BURROcracia. 


Tentando resumir, essa resolução levaram vários dias. Muitas idas e  vindas na internet. Muitas ligações para o DETRAN de Florianópolis, até que conseguimos enviar os documentos necessários para Janete, pagar todos os débitos relacionados ao carro e agora seria esperar que a querida amiga de Floripa resolvesse tudo e enviasse o documento para a gente. 

Toda essa estressante aventura somada com noites mau dormidas. Com o objetivo de tentar melhorar Romina inclusive armou o seu pequeno colchonete de acampamento, mas não solucionou. 

Pensamos em possibilidades de solução e uma delas foi ligar para Marília perguntando se a gente poderia ir para a zona rural Caldeirão onde a sua família possui uma casa e ela havia nos oferecido anteriormente. Diante disso Marília muito articulada se mobilizou, conseguiu colchões de solteiro e deixamos combinado a ida para o Caldeirão. 

No sábado Marília nos pegou para a gente sair, se distrair, conhecer um pouco da cidade, tomar uma cerveja e rir um pouco de toda esta situação. Transformá-la!

No dia seguinte fomos nos apresentar no parque Ambientalista Severino Montenegro, que ficava em Indianópolis. Chegamos mais ou menos 15:30. Montamos nossa pequena estrutura enquanto Marília foi pegar uma amiga. Fomos convocando o público, estávamos previstos para inicias 16 horas, mas começamos as 16:20. O sol foi baixando, a roda crescendo, eu fui fazendo aquecimentos com o público, organizei as crianças e enrolamos até que a Marília chegasse. Queríamos que ela assistisse e além disso ela iria tirar fotos. Quando decidimos começar, ela chegou. 



Uma roda desafiadora, muita dispersão, as crianças com muita necessidade de atenção, pessoas indo embora antes e durante o momento do chapéu. Mas ainda assim o parque muito bonito, a roda estava linda e o chapéu com toda a dificuldade foi bom. 



Muitos aprendizados, depois descobrimos que tem um ônibus de 17 horas e as pessoa saíram para não perdê-lo. Em alguns lugares não podemos se estender, também temos que deixar muito claro que somos uma companhia independente e não temos patrocínios. Sempre há o que melhorar. 



Estávamos muito felizes com as fotos da Marília que ficaram muito boas. Um ótimo e lindo registro para o nosso trabalho. Comemoramos este dia saindo para comer esfirras.

No dia seguinte havíamos combinado de ir para a zona rural depois das 14 horas. Resolveríamos assuntos pela manhã e iríamos pela tarde, mas não foi tão simples como imaginávamos. Fomos em vários veterinários, andamos muito no centro e no sol com Lamparina até que o universo nos levou para a pessoa certa. Uma veterinária especialista em dermatologia canina. Muito chic nossa querida Lamparina. O valor nos fez sentar e respirar. Pensamos depois de tudo isso que da mesma forma que desejamos que valorizem o nosso trabalho, precisamos valorizar o ofício das outras pessoas. O resultado do exame feito sairia no dia seguinte, o que implicaria adiar mais um dia da ida na zona rural. Quando ligamos para Marília, ela nos informou que já estava tudo avisado na escolinha que apresentaríamos e que a diretora da escola estaria nos esperando.

No dia seguinte pegamos o exame e Lamparina foi atendida, ela estava com ácaros. Os bichinhos cavam a pele deixando ovos e gerando a coceira que tanto a incomodava. A doutora também passou uma vitamina para repôr o músculo da patinha que desde a injeção que levou em Piaçabuçu ainda não pisava bem. Ficou a missão para a gente dar as injeções em combate ao ácaro. Estávamos mais tranquilos em relação a cachorrinha. 

Conseguimos ir para a zona rural neste mesmo dia, dia 25 de Agosto. Nos encontramos com Marília e ela nos guiou até o Caldeirão. Andamos mais ou menos 30 quilômetros, sendo 8 de estrada de terra, o que nos fez perceber que Olivério estava cada vez mais frágil e que precisa do conserto do piso. 



Quando chegamos deixamos o fusca descansando. 

Depois fomos conhecer a Irmã Nazaré e a escola que iríamos nos apresentar. Uma senhora de 78 anos que dedicou 30 destes anos a comunidade do Caldeirão, principalmente na área da educação. Pensamos juntos como seria e tudo ficou marcado para o dia seguinte. Segundo ela as crianças estavam ansiosas. 

Votamos para a casa da família da Marília, conversamos compartilhamos e como sempre um encontro muito agradável. Dia 26 de Agosto fomos para escola no período da manhã, as crianças estavam em suas salas e quando parávamos nas janelas todos gritavam juntos: SEJAM BEM VINDOS! Rapidamente alguns chegaram para nos ajudar. Como sempre armamos rápido, as professoras organizaram as crianças em volta da lona e fizemos uma linda apresentação. Eles estavam encantados, mas foi perceptível o estranhamento de quem nunca tinha tido a experiência de um espetáculo desta forma. Provavelmente tinham a referência da TV, palhaços como Patati e Patata ou algo assim, ficamos com esta sensação. No final vieram com suas curiosidades e perguntas. 

Durante a apresentação ficamos um pouco dispersos por conta da Lamparina, mas tivemos a grande ajuda da irmã Nazaré que deu assistência a cachorrinha. 

Quando achávamos que tinha acabado a irmã diz: Passa o chapéu que eles trouxeram umas moedinhas, Não contávamos com essa parte, mas achamos lindo, pois é um grande aprendizado para as crianças valorizarem o nosso trabalho, faz parte do processo formativo. Foi muito consciente da parte da diretora e nos ajudou a pagar a gasolina.

Passamos os dias seguintes na zona rural, o que foi ótimo. Muito sossego e tranquilidade enquanto esperávamos os documentos que já estavam encaminhados.





No dia 28 de Agosto tivemos a notícia que os documentos do carro chegaram no escritório da Rosário, tia da Marília. Ficamos felizes, foi rápido. 



No dia 29 de Agosto, parte da família da Marília se reuniu na casa em confraternização devido a colheita do milho. Estava todo mundo com a mão na massa, ou melhor, no MILHO. Comemos milho cozido, milho assado e elas ficaram até mais tarde fazendo canjica e pamonha. 


Nós não esperamos a pamonha e a canjica e partimos para Caruaru agradecidos. Comemos um sorvete com Marília quando chegamos na cidade. 



Dia 30 de Agosto fomos conhecer o famoso Alto do Moura, com Marília e Luiz. Um bairro que conserva as raízes de Caruaru, muitas lojas expondo e vendendo a arte dos mestres do barro. O local também possui museus falando um pouco da vida dos principais mestres e claro culinária 







Fomos no museu do mestre Galdino, muito interessante sua história e sua obra. Trabalhos incríveis. 


Almoçamos, nos divertimos e depois fomos para o parque para mais uma apresentação. A apresentação estava marcada para o mesmo parque que tínhamos feito anteriormente, mas desta vez não foi tão boa. O público estava muito disperso, nós não nós não estávamos conectados e o chapéu foi fraco. Muitos aprendizados como sempre.

No período da noite fomos até a casa de Marília, comemos a pamonha e a canjica que não havíamos comido no Caldeirão. Tomamos cafezinho, muitas conversas, compartilhamentos e assistimos a um documentário muito bom chamado "Tarja Branca". 

No dia seguinte já estava tudo pronto, nos despedimos de Luiz e partimos para Recife/PE. 

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