domingo, 24 de janeiro de 2016

O assalto - Salvador/BA

Volta para Salvador,  dias de descanso, produção de dedoches para adiantar as recompensas do CATARSE. Organizamos HD, e-mails dos apoiadores computados. Dia 28 de Junho, depois de um bom tempo em casa decidimos ir ao Pelourinho, sair um pouco. A cidade estava vazia, clima de moradores de rua. Fomos até o Pelourinho, passeamos e na volta comemos uma pizza. Dentro da pizzaria ouvimos um forró, ainda resquicios de São João. Dançamos. 

Na volta, depois de passar pelo circuito turístico, onde se concentra a polícia fomos abordados por dois assaltantes. Diante da impotência levaram o celular, pouco dinheiro e o mais importante: Carteira de habilitação e cartão de banco. Indignação e reflexão postada no facebook um dia depois do 28 de Junho:

"Que estado quadrado em que vivemos!
Mais ou menos 19h30 de ontem fomos assaltados em Salvador. Dois adolescentes vitimas de um sistema injusto. Roubaram um palhaço e uma palhaça com um celular com o visor quebrado e uma quantia que não chegava a R$ 30,00.
A reflexão é que agora estamos sofrendo com a burocracia do estado para tirar a 2 ª via da carteira de habilitação e vamos pagar mais de R$ 50,00 para o DETRAN inicialmente, se precisarmos transferir a carteira para o estado da Bahia o valor chega a R$ 120,00, ou seja vai ganhar mais do que os ladrões levaram.
O próprio estado gera o assalto e o próprio estado ganha.
Um ciclo vicioso, onde vamos parar?"

Dia 29 de Junho o início da pesquisa de como resolver a situação, um sistema burocrático com muita dificuldade e poucas soluções, seguimos com o pensamento positivo e como sempre diz Romina: "Tratando de se ocoupar e não se preocupar." Soluções: entrar em contato com Luisa e Bete amigas de Confins/MG que ficaram com a caixa onde estão o CPF e RG. Pedir que nos envie. Fazer procuração, autenticar xerox do RG e CPF, comprovante de residência, declaração de comprovação de endereço e B.O. Enviar tudo para que minha mãe solicite a 2ª Via da carteria de habilitação. Depois de uma certa crise da minha parte, ânimo no lugar e capacidade resolutiva.

A semana toda passou na espera da chegada da carta com os meus documentos, pensando em como resolver esta situação. Tentando entender qual é o aprendizado. Pensando muito. Aprendendo a aceitar. A semana foi desgastante emocionalmente, ainda não aprendemos a medir as emoções. A ser oportunos na hora de falar sobre alguns temas. Isso desgasta.

Foi uma semana para adiantar os dedoches que serão as recompensas dos apoiadores do CATARSE. Temos vários Suspiros, Burbujas e a técnica de fazê-los mais rápido. Uma boa ideia para vender depois da roda, como lembranças para os espectadores, fortalecendo o chapéu.




Na sexta, dia 3 de Julho foi a estréia do espetáculo do João Lima, o palhaço que está no recebendo na sua casa. Fomos no teatro para assistir "O Casamento do Palhaço" no SESC Pelourinho. A apresentação foi linda, a pesar de ter visto ele nervoso e um pouco bagunçado. Depois da apresentação fomos em um bar para comemorar a estréia e compartilhar junto com a galera do grupo Via Palco. 

No dia seguinte aproveitamos que não estava chovendo e fomos nos apresentar no Campo Grande, fizemos uma divulgação online uma hora antes. Chegando na praça surgiu uma dúvida de onde fazer a apresentação. Tinha o espaço onde haviamos apresentado anteriormente e outro espaço menor como um anfiteatro. Lugar que as crianças utilizam para jogar futebol.  Analizando qual espaço seria melhor, chegaram duas crianças. que já tinham assistido o espetáculo. Aproximaram-se para falar com a gente e saber se teria apresentação. Falamos que sim, mas que estávamos escolhendo o lugar, algumas pessoas sugeriram esse "anfiteatro" pelo fato de ter onde sentar. 

Abrimos a lona neste novo lugar. Percebemos que ficamos escondidos. Pouco tempo depois as crianças voltaram, combinamos deles brincarem enquanto a gente montava. Apareceram mais algumas crianças e começaram a gerar um conflito. Dizendo para a gente ir para o outro lugar, que alí era o espaço deles jogarem bola. Não conseguimos dialogar, eles queriam que a gente saísse do lugar. Nós emocionalmente fragilizados, eles se impondo com a energia autoritaria como se fosem os "donos" da praça. Juntamos as coisas e falamos que eles poderiam brincar neste lugar, nos sentimos injustiçados. Romina falou que não queria vê-los na apresentação, inclusive ameaçou furar a bola. Comportou-se como eles, depois percebeu que estava fazendo a mesma coisa, proibindo eles de um espaço que é público.  Da mesma maneira que eles estavam proibindo a gente. 

Eles ficaram confusos, ao mesmo tempo que não deixavam a gente apresentar neste lugar, queriam ver o espetáculo. Depois de uma conversa que eu tive com eles, com muita paciência. Tentando entender porque a situação chegou neste ponto, conseguimos fazer as pazes, todo mundo pediu desculpas e mudamos o assunto. Nós fomos para o outro lugar. Eles ficaram brincando e não lembraram de aparecer para assistir. 

Pensamos que saindo exorcisaríamos as emoções e energias da semana do assalto, mas não deu certo.  Sentimos fortemente que na capital temos  que estar sempre lutando e brigando por tudo. Na hora de estacionar o carro, na hora de pedir uma informação e até na hora de achar um lugar para apresentar. Se bobear lhe pisam, até as crianças. As pessoas costumam se tratar de forma agressiva e dominante. 

Tivemos que fazer um esforço para mudar a energia. A pessar disso, a apresentação foi linda, estranha, mas funcionou. Juntamos muitas pessoas, no final tinhamos uma roda grande e as pessoas ficaram até o final, diferente da primeira vez que nos apresentamos neste lugar. 

De novo a reflexão: Parece que o público estava assistindo TV, não estavam 100% presentes, e a gente? Tinha um grupo de percussão ensaiando, precisávamos gritar. 

Romina diz ter se conectado em determinados momentos, mas em alguns momentos viamos eles no celular, um pai fazendo bolhas de sabão para o filho na hora do espetáculo e isso fazia a gente se perder. 

O momento do chapéu foi o mais complicado, foram muitas moedas e os adultos não reconhecem que também tem que pagar, passam as moedas para as crianças e quando passamos por eles dizem que já botaram. Educar pessoas adultas é mais complicado do que educar crianças nestes aspectos. Continuamos na luta e no aprendizado.

Romina sentiu-se consumida, consumida como um produto. Como se tivessem levado a sua energia e não senti vontade de voltar neste lugar. 

No final da apresentação nos sentimos indignados, na hora do chapéu as pessoas se fazem de bobas, Romina inclusive falou que quem quiser tirar foto com o palhaço era R$ 5,00. Assim aconteceu, muitas reflexões sobre as capitais, sobre o que precisamos aprender, sobre nossa profissão neste país.

Reflexão: Falam de reduzir a maior idade penal para 16 anos, mas não valorizam momentos como estes? Apresentações em espaços público, entretenimento para a família, para as crianças. O que os jovens precisam é de educação de qualidade e cultura, assim não precisamos de presídios. 

Dia 5 de Julho, fomos em uma praça no bairro da Pituba. Neste dia teria uma apresentação de um espetáculo da Luanna que nos recebeu no Vale do Capão, Ilha de Mato. Um projeto em que ela apresentaria com artistas convidados. Demoramos a sair e nos perdemos no caminho, além de ter errado o horário. Chegamos na hora do chapéu. Uma praça com um público de classe média alta. Armaram, uma estrutura muito legal para aéreos, mas enfim não vimos. Utilizamos o espaço para treinar um pouco de malabares e legal, sairam coisas novas. Temos que treinar.

Depois fomos ao Farol da Barra passear. Comer acarajé e aconteceu algo interessante. Achamos um celular muito parecido com o que perdemos no assalto. Esperamos o dono lugar e nada. O celular era bloqueado não tinhamos como ter acesso a nenhuma informação, com a a juda de Anderson sobrinho de João resetamos. Conversamos sobre o que faríamos e deceidimos devolver. Romi enviou uma mensagem para um dos contados da agenda e marcou oo encontro para a devolução.

No dia 7 de Julho, fomos ao Teatro Xisto Bahia assistir a um samba de amigos de Inêz e João e o grupo Via Palco apresentaria uma cena como intervenção, a cena clássica de palhaço "as lavadeiras", foi divertido. 

8 de Julho chegaram os documentos, muita alegria. Dia seguinte fomos ao cartório dar início a organização para enviar os documentos para minha mãe. Autenticar documentos, reconhecer firma e toda essa burocracia, sorte que Luisa e Bete nos enviaram todos os documentos, meu RG de 2003, com cara de menino e plástico rasgado não serviu. Precisei da carteira de trabalho.

Entramos em contato com Osvaldo, secretário de cultura de Ribeira do Pombal que já fazia algum tempo que nos esperava, mas por conta dos imprevistos adiamos o caminho e a ida do projeto Se Essa Praça Fosse Minha para a sua cidade. Fomos

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